segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

...mais uma gota no oceano Cloud Atlas...

... em 5 de Ago de 2003 escrevi na "VOADORES"

http://br.groups.yahoo.com/group/voadores/message/32097


Surgir-me uma dúvida, se todo este "esforço" por evoluir, e
enviar energias estava a funcionar ou se valeria a pena.

Logo surgiu a resposta, sei lá de onde, que mesmo apesar de eu ser
uma pequenina gota neste imenso oceano, assim como um copo de água
que está cheio até ao limite, esta gotazinha irá criar volume e
fazer transbordar o AMOR por todo o infinito...

Obrigado por tudo...

Muita Paz, Luz e Amor

Pedro Rafael

O que se faz no Passado, repercute-se no Futuro e, guia o nosso Presente...

Pois é...vi este filme à pouco tempo e não poderia deixar passar esta parte, onde fez um "clic" dentro de mim.

Cloud Atlas recomendo a todos...


quarta-feira, 23 de novembro de 2011

...o passado pode prever o futuro...


 Estive a ler colocações antigas no grupo Voadores, quando reli algo que me inquietou.

Quando jovem, ainda na adolescência, por 'acaso' veio-me parar às mãos um livro sobre 'Tarot'.

Tinha explicações de como ler as cartas (cartas normais de jogar) e isso chamou-me atenção.
Comecei a levar aquilo na brincadeira, como normal num jovem de quinze anos ou menos.
Pratiquei uns tempos e já tinha uma desenvoltura que me permitia decorar o significado de cada carta.

O assombro veio quando comecei a aplicar o 'truque' nos amigos e conhecidos. Aquilo parecia mesmo funcionar, não sabia bem qual o mecanismo, mas as ordens de acerto rodavam os 90%. Em relação a perguntas do passado da pessoa o acerto era de 100%. Para previsões do futuro, muitas aconteceram apesar de situações banais de que não há memória, outras por falta de retorno da pessoa interveniente. Só para dizer que no caso de doenças ou mortes acertei todas (apesar de ser familiares com certa idade, mas a circunstância e a peculiaridade da situação era muito real).
O que parecia ser uma brincadeira, passou a ser algo mais sério e comecei a ser olhado de uma forma mais intrigante. Não é preciso dizer que aquilo deixou-me assustado, muito assustado ao ponto de me recusar a tocar jamais nas cartas.

Nós pudemos fugir e até nos escondermos mas, quando estamos num caminho, por mais atalhos que tomemos, vamos sempre parar a esse caminho.

Tudo isto para dizer que se não é com as cartas, existe outro tipo de dispositivo que nos faz 'adivinhar' acontecimentos sem que a nossa presença física seja necessária. Sejam eles passados ou futuros, independentemente do tempo em que ocorreram ou ocorrerão os mesmos.

Foi esta mensagem que postei em 5 de Agosto de 2003 que me chamou atenção no presente para algo que me aconteceu no futuro a seguir a esse acontecimento.

Os simbolismos que nos são dados a ver, revelam-se muitas vezes situações reais. Por vezes é preciso ler de uma forma mais literal.

Eu pedia ajuda, uma explicação para as visões que me tinham acometido nessa noite de prática 'energética'...mas foi o futuro que me trouxe essas respostas.

A mensagem era esta (está em br.groups.yahoo.com/group/voadores/message/32097 ):

"Boas,

Paz, Luz, Amor...


Tenho algumas dúvidas.


Ontem á noite fiz a meditação de segunda-feira.


Depois, a minha mulher foi-se deitar.

Como ela estava cheia de dores nas costas, comecei
a fazer alguns "passes energéticos", que aprendi em livros.

Primeiro, alisei-lhe a "aura", depois procurei, com as mãos,

as zonas do corpo que eu achei precisarem de energia.

Passava as mãos ai a uns 3 a 5cm do corpo, onde elas "formigavam"

eu as prostrava.

A partir daqui, começaram a acontecer coisas "estranhas".

Estava eu com as mãos no corpo, quando comecei a sentir-me
em "estado vibracional"(EV-Segundo o que me apercebi).
Sentia muita energia a fluir pelas minhas mãos e, por todo
o meu corpo, como se fosse em "Vórtice".Até fiquei ligeiramente
tonto.

A seguir comecei a ter certas "visões", aqui eu gostava que me

ajudassem.

Eu não forçava as "visões", deixava-as fluir livremente.


Primeiro vi um caixão com uma pessoa dentro, que eu não conhecia

Essa pessoa já estava em estado de decomposição, mas
engraçado, começou a inverter-se o processo, até ficar muito jovem.

No ar pairavam mil e uma pétalas de flores de imensas cores.


De seguida essas pétalas transformaram-se em pontinhos de luz.


Mais interessante ainda, surgiu dessa imensa luz um "Cavalo Alado",

um cavalo voador(não era unicórnio), depois um Elefante, a seguir
uma Vaca , que sorriu para mim.

Por favor, alguém sabe dizer qual o significado destas visões ?..."


Agora percebi o significado destas imagens simbólicas. Foi dado a ver um acontecimento, que na minha mente era impossível prever de alguma forma, pois só em 2005 é que soubemos da doença da minha mulher. Foi em Agosto de 2005 que tudo aconteceu, tal e qual como nessa minha visão, claro que deturpada pelo desconhecimento do corpo que estava no caixão, senão seria demasiado óbvio.

Num modo global e generalizado, quase todas a premonições são de carácter trágico. Eu digo premonições e não previsões, para mim são coisas diferentes. Isto, de alguma forma, leva a crer que existe realmente um mecanismo inerente à condição humana que permite que isso aconteça. Seja o tal do 'instinto de sobrevivência', ou o nosso (e dos outros) destino estar pré determinado, ou uma equação matemática extremamente complexa cuja a solução por momentos conseguimos vislumbrar.
Ou estamos a viver ciclicamente a mesma vida, vezes sem conta, percorrer o mesmo caminho em modo automático em que sabemos, sem nos apercebermos, o que vem a seguir àquela etapa. São muitas as variáveis e muitas as condições, mas todas elas levam ao mesmo resultado.

A previsão é algo mais subtil e mais perigoso, que eu não gosto. Esta pode gerar os acontecimentos. É por isso que prefiro diferenciar uma da outra. A premonição é o fluir dos acontecimentos. Uma explica e mostra, a outra tende a forçar.

O tema é de tal importância que começam a existir estudos sobre este e mais assuntos, colocando de lado a "regra silenciosa que paira sobre o ambiente acadêmico, segundo a qual tudo o que foge de uma explicação racional deve ser solenemente ignorado"

www.istoe.com.br/reportagens/127023_A+PREMONICAO+SOB+A+LUZ+DA+CIENCIA

Anseio por uma premonição de carácter  agradável para o nosso futuro...

sábado, 19 de novembro de 2011

...uma missão estranha...

..."Hoje vem de mota?!", pensei, ao ouvir o rugido ao longe do motor
"Mas onde vai ele descer?!!"- Ao olhar em redor, não via qualquer caminho ou estrada, por onde ele pudesse descer.
Encontrava-me numa plataforma suspensa, à espera. Sabia perfeitamente de quem estava à espera, mas não me lembrava de ter combinado nada, ainda por cima neste sítio tão peculiar.
"Como raio vim aqui parar?!!", sem entrada nem saída, só mesmo uma plataforma suspensa no meio do nada.
Os meus pensamentos foram surpreendidos , quando ouvi, mesmo sobre mim, o barulho ensurdecedor da mota. Virei-me, olhei para cima e vi, incrédulo, a aceleração da mota, direita a uma rampa, que se encontrava em cima de um morro, a uns cem ou duzentos metros de altura, do sítio onde me encontrava.
"Impossível, ele não vai fazer isso?!!!..." não deu tempo de pensar mais nada. Incrédulo e admirado, vi a luz da mota subir a rampa, cortando a escuridão com o seu foco. Rodopiou no ar, fazendo a roda da frente ficar para trás, colocando-se de cabeça para baixo, numa rotação de 360º, alinhando novamente, numa perfeita rotação, colocando-se paralela à plataforma. Desceu, vertiginosamente, sobre a plataforma, tocando primeiro com a roda traseira, seguida da dianteira, afundando toda a suspensão no solo. Dirigiu-se para mim em alta velocidade. Eu mantive-me firme no meu local, apesar de tenso. Os meus maxilares cerrados e punhos fechados.
Quando estava quase perto de mim, travou a fundo, rodopiando e fazendo as rodas chiar com o ruído característico de travagem, envolvendo-me de fumo do atrito e ficando a poucos centímetros de mim.
"Qual foi a necessidade deste exibicionismo todo?!!!", disse num tom irritado e paternalista, enquanto a névoa do fumo se dissipava à nossa volta.
Ele vestia o típico fato de 'motoqueiro', todo preto, botas com aplicações em metal. Não trazia qualquer protecção na cabeça. Apesar disso, não lhe conseguia distinguir os traços do rosto. Não liguei importância, pois conhecia-o muito bem.
"É para criar ambiente para a missão que nos reserva hoje!" disse ele com um sorriso sarcástico estampado no rosto! "Eu pensei que vocês eram muito evoluídos, não necessitando deste tipo de 'coreografia' para dar nas vistas...!" mas ele não ligou para o que eu disse. Desceu apressadamente da mota, começou a dirigir-se para uma das extremidades da plataforma, obrigando-me a segui-lo em passos largos. Só nesse momento reparei na claridade que emergia mais abaixo. Quando chegamos quase ao seu limite, reparei numa escadaria que dava para um subterrâneo, tipo estação do metro. A meio das escadas, já se encontrava um grupo de pessoas preparadas para a "acção". Vestiam de branco, tipo fato completo, mas com uma textura almofadada, debruada em losangos parecido com fatos espaciais. Todos eles eram asiáticos. Estavam numa pose de combate tipo kung-fu, ou uma arte marcial parecida.
Quando nos viram, reconheceram-nos logo e cumprimentaram-nos de uma forma rápida com o olhar.
"Como está o ponto de situação?!" perguntou para eles.
Eu ia observando a cena toda, tentando compreender que tipo de missão nos reservava e qual o significado de tudo aquilo. Os meus pensamentos foram interrompidos por uma explosão que veio do interior do subterrâneo, quase nos atingindo.
Reparei que um dos asiáticos, colocou as mãos junto ao umbigo em forma de concha, formando-se de seguida uma bola de luz que foi 'disparada' para o interior.
"Vai, mexe-te ou temos de te 'adormecer'?!!!" gritaram para mim. Eu corri pelas escadas abaixo, entrando num túnel completamente iluminado, enquanto eles continuavam a disparar ondas de energia, protegendo a minha entrada.
Este túnel estava apinhado de pessoas, que pareciam estar à espera de algo, tipo transporte. Como não vi quaisquer carris, deduzi que não fosse metro mas algo da mesma 'espécie'. Essas pessoas não ligaram para nós, mas reparei num grupo diferente e vestidos desenquadrados do resto de todos. Eram eles que estavam a disparar sobre nós. A missão ficou clara para mim, teria que os 'capturar' de alguma forma. Reparei que alguns foram atingidos pela energia, mas não lhes acontecia nada, só ficando ligeiramente atordoados.
"O que faço agora?!!!!", gritei escondendo-me atrás de um dos pilares. "Dispara, dispara depressa!!!". Nesse momento fiquei eu atordoado com a ideia de disparar raios de luz com as mãos. "Vê lá, se quiseres a gente adormece-te?!", adormecer-me? Mas porque passam a vida a querer por-me a dormir, ainda por cima numa situação daquelas. Desde logo reagi. Imitei a forma como eles estavam a actuar, imaginei uma onda de energia a percorrer as minhas mãos e não é que saiu mesmo um raio de energia. O problema foi não ter controlado a direcção dessa onda energética, provocando danos colaterais em três ou quatro pessoas que não tinham nada a ver com isso. "O que é que eu fiz??!! Já matei aquelas pessoas!!!". Não tive tempo de entrar em pânico, pois eles continuaram a gritar comigo"Continua a disparar, elas estão bem, só adormeceram !!!". Assim continuei, naquela coreografia do dispara, esconde. Verifiquei que os meus disparos tinham um poder superior aos dos restantes. Só que, a nível de experiência, os outros estavam bem acima de mim. Depois de algum tempo naquela tarefa, lá consegui acertar com alguns daqueles que eram o objectivo principal. Só que houve outros que fugiram para outros túneis mais à frente. Enquanto uns se começaram a ocupar dos que estavam caídos no chão, outros desataram a correr atrás dos fugitivos.
Isso deu-me tempo para apreciar o túnel onde me encontrava. Era uma câmara gigantesca, iluminada através das paredes, parecendo que a luz emergia da própria parede.
Tinha tudo um aspecto envidraçado, mas sem ser vidro. Era como se fosse semi-transparente. Realmente as pessoas estavam à espera de veículos tipo metro, mas na realidade (ou in'realidade) estes eram enormes carruagens todas em vidro transparente, que pairavam a alguns metros do solo. Parecia uma cena surreal, tirada de um filme de ficção científica, numa era muito avançada. Continuei andar, em direcção a outro túnel, dando a uma antecâmara que tinha uma porta tipo escotilha de submarino. Girei a roda da porta até abrir, passando pela abertura até dar a outro local. Nesse local estavam pessoas que davam a sensação de serem controladores de tráfego e de outras situações. Não existia ecrãs, é como se as imagens fossem holográficas tridimensionais e, estes através do toque, faziam reagir diferentes comandos. Continuei o meu percurso de explorador do terreno, indo de sala em sala, até começar a encontrar menos pessoas.Neste percurso, dei a uma sala cuja a porta se fechou atrás de mim. Sem retorno, tentei em vão, achar uma saída. No centro da sala, estava uma imagem holográfica de uma esfera. Dirigi-me para lá, começando a accionar botões nessa esfera, como se soubesse o que estava a fazer. Por cima de mim, de repente abriu-se uma porta de correr, descendo uma escada articulada. Subi a escada que dava a outra portinhola que se abria rodando tal e qual como para sair de um submarino. Assim que abri a porta, senti-me ser puxado, saltando da cama e apontando estes acontecimentos...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

...o dia em que perdi alguém...

...foi quando senti o seu perfume que tive a certeza que a ia perder nesse dia!

"Sabes, tive um sonho estranhíssimo, esta noite, até acordei a rir!!!", disse a minha esposa, nessa tarde na hora de visita.
"Vê lá, estavas tu e o enfermeiro 'Vicente', sabes ? aquele que está a estagiar, de óculos e novinho?!", sim o enfermeiro 'Vicente', até eu, depois de tantos meses no hospital, sabia fazer melhor os tratamentos do que ele.
Era mesmo novinho, ainda sem experiência, mas é para isso que servem os estágios, ainda por cima nestas unidades de cuidados intensivos.
"Estava ele muito atrapalhado, em volta de mim! Colocava aparelhos e tirava! Mexia-me e, olhava para mim com cara de parvo! Eu perguntava-lhe o que estava a fazer! Ele não me respondia e continua naquela atrapalhação!", não me admirava nada disso, realmente ele era um bocado trapalhão, ainda bem que já tinha ido estagiar para outro hospital.
Tinha pouca confiança nele. Sempre que fazia os tratamentos à minha mulher, eu passava o tempo todo a dar dicas.
Sim, é que eu tive um curso intensivo!!  Desde de fazer o curativo das feridas, provocadas por 14 horas de operação. Tratando a pele ferida e dilacerada, onde outrora residia um farto peito de pele macia e morna, inebriando de desejo todo o meu ser com o seu perfumado sabor que a minha boca envolvia. Tratando a pele ressequida, onde antes existia um abdómen, forte e quente, que se enchia de ar a cada vibração, agora, sem vida, é somente um emaranhado de pele sintética e ossos feitos de uma espécie de cimento e um diafragma feito de uma rede...14 horas de operação e de espera, com uma equipe de 15 médicos, enfermeiros, especialistas, carpinteiros, estucadores...

"Pois foi e, tu olhavas para ele e dizias o que ele devia fazer!!! Hilariante, tu sabias mais do que ele que estudou medicina...mas eu falava contigo para não te enervares com ele, mas não me respondias. Ainda bem que ele já cá não está, acho que foi para o Santa Maria. A enfermeira 'Maria' andava sempre atrás dele a corrigir as coisas dele!", e as 'coisas' dos médicos?! Quem as corrige?! Quem corrige 2 anos de tratamento para 'algo' que não era?!!! Quem corrige a falta de capacidade de visão para ler uma radiografia que dizia tudo?!!

"Eu sentia-me bem, e vocês a falar como se eu nem estivesse ali!! Não sentia dores, nem sentia o tubo no pulmão, respirava muito melhor!! Eu a dizer isso e vocês nada, só às voltas e voltas...", e voltas com as garrafas do oxigénio lá em casa, com um cobertor por baixo para não riscar o chão e 7 meses sem dormir a ver se o oxigénio tinha acabado, se estavas a respirar, se o tubo no pulmão não tinha entupido, se estavas com febre, se estava na hora dos remédios, se a pequenina com 3 anos chamava pelo pai, pois a mãe não podia ir e ela sabia disso "A mamã tem um doi doi papá, sabias? Ela não me pode pegar ao colo, mas tu podes, não podes papá?!!", o que é que se diz a uma criança que vê o pai a tirar liquido do pulmão da mãe com uma seringa, uma mãe que a pegava ao colo todo o dia, que a levava a passear e, que agora passa o dia na cama ou no sofá, sem falar nem com a filha, a olhar o vazio, "Claro que posso, anda cá Amor!!!"  ainda hoje com 10 anos eu faço questão de a pegar ao colo...

"Vocês pareciam baratas tontas às voltas! Depois tu paraste e ficaste a olhar para mim, mesmo nos meus olhos, parecia que tu entravas dentro deles!!! Foi mesmo real, quando acordei desatei a rir ao lembrar-me das vossas caras tontas!!!"

...duas semanas depois, estava eu no trabalho e recebo um telefonema da enfermeira 'Maria',
"É o marido da Maria José?!",
o meu sangue gelou nas veias e o meu coração começou a bombear pedaços de gelo envidraçado que me cortavam por dentro, isso já tinha acontecido à 7 meses atrás, quando o primeiro médico a operou e me chamou sozinho para uma sala...e ali tirou de mim todo o chão dos meus pés, toda a minha força, todo o meu Amor, eu sabia já à 7 meses e nada disse, via a esperança no rosto das pessoas, dos pais dela...mas nada disse, até eu próprio tive a pretensão egoísta de sentir esperança, mas nada disse...e nessa noite chorei, como nunca o tinha feito, um vomito agonizante de dor que veio do fundo mais obscuro do meu ser, que nunca apaziguou a dor durante esses 7 meses...chorei sem saber o que viria a seguir, o que me reservava nesses 7 meses de dor, esperança, Amor...e não mais chorei até esse dia...
"Sim!! sou eu! Aconteceu alguma coisa?!!!"...sim tinha acontecido

Quando cheguei ao hospital, já lá estavam os pais dela e a irmã.
Ela respirava pesadamente, com o auxílio do oxigénio, num sono profundo de olhos abertos como se nos estivesse a ver.
Tinha entrado em coma nessa noite e, pediram a todos os familiares para estarem com ela, para ela sentir-se acompanhada.
Sentei-me na cama junto a ela, junto ao seu rosto...foi quando senti o seu perfume que tive a certeza que a ia perder nesse dia!

E chorei, chorei porque eu sabia...agarrei-me  a ela para a segurar, para a não deixar partir, o egoísmo apoderou-se de mim, achei que tinha o direito de a ter, de que maneira fosse...

"Acalma-te, não fiques assim!!", disseram os pais dela, "Olha que ela está a ouvir tudo!! Ela vai ficar ansiosa e vai demorar mais a sair do coma!!!"...a sair do coma, mas que triste ilusão. Para quê que ela queria sair do coma?!! Para se sujeitar a mais uma série de tratamentos??!! Para ver a filha e não a poder abraçar, nem pegar ao colo?!!! Não, basta de sofrimento, BASTA!!!!

A noite aproximou-se e, cansados os pais dela foram até à cantina do hospital. Fiquei sozinho com ela. Por momentos ia jurar que ela sorriu.
"Boa noite!!" disse uma voz atrás de mim. Quando me virei era o enfermeiro 'Vicente', "Venho fazer o tratamento! Se quiser pode ir descansar até lá fora", "Obrigado, estou bem aqui!" disse.

Ele começou a pegar em tubos para a aspirar, e seringas e toalhas, de um lado para o outro, às voltas como se não soubesse o que fazia. Eu a dizer como se costumava fazer, a dizer que se tinha de rodar a torneirinha para não entrar micróbios.
Ele colocou um tubo numa narina e começou a aspirá-la, depois a outra. Limpava aqui e ali.
Quando acabou e estava a arrumar tudo, comecei a sentir a respiração dela estranha.
"Olhe que ela não está a conseguir respirar!!!", "Ela tem as veias todas a dilatarem!!!" como quando rimos à gargalhada e nem conseguimos respirar...

Eu aproximei-me do rosto dela e senti, senti o seu último folgo, senti mesmo nesse momento, nesse preciso momento, os seus olhos a olharem os meus e a agradecerem com uma ternura inimaginável, todo o Amor, Carinho, Dedicação toda a entrega...e vi, vi as suas pupilas dilatarem e escurecerem...

Deixei-a partir..."Adeus meu Amor!"...

terça-feira, 15 de novembro de 2011

...o dia em que quase morri...


…final de Verão de 93, as minhas férias ainda não tinham terminado. Eu estava bem disposto e no convívio com amigos na Serra da Estrela e não fazia intenção de acabar as férias tão cedo.
Os meus pais nesse dia teimaram que esse era o dia de regressar a Lisboa. Eu fiz birra e não estava nada disposto a ir. Deixei a mala por fazer, disse que ia depois de autocarro ou comboio mas…os meus pais não me deram tréguas e lá tive de ir, relutante mas fui na mesma.
Não falei com eles a viagem toda, liguei o meu “Walkman” de K7 da Sony, phones nos ouvidos a ouvir “Iron Maiden”, “Metallica”, “Guns N’Roses”, enfim o mais “Hard” que a revolta pode gerar…

O meu pai tinha uma carrinha de 9 lugares, pois tinha comércio e necessitava para carregar mercadorias. Assim aproveitou e levou mais familiares, era ao todo 6 pessoas no carro, três lugares à frente (eu ia no meio) e mais três atrás (uma prima com as suas duas filhas).

Foi ai que tudo aconteceu…o tempo parou e o mundo começou a funcionar em câmara lenta.
Ao principio pensei que tinha sido o “Walkman” que tivesse a ficar sem bateria ou a K7 a encravar, mas a sensação era mesmo essa, de que tinham reduzido as rotações do disco e tudo estava a parar.
Lembro-me dos gritos de pânico que pareciam roncos roucos, misturados com o chiar dos pneus, o balanço incontrolável provocado pela tempestade lá fora…
O carro tinha sido abalroado pela esquerda, empurrado para a direita embatendo na berma e num pequeno terreno mas, quando pensávamos que tudo tinha ficado por ai, o terror instalou-se e o que foi milésimos de segundos, para mim foram minutos…horas…dias…
Atravessamos quatro faixas de rodagem, vi o olhar de pânico misturado com horror do condutor da outra faixa, quando este se encolheu todo para receber o nosso “abraço” metálico de sangue misturado com os fluidos, sangue, óleos, sangue, agua, sangue, vidro, sangue…e começamos a descer.
Descemos por uma ribanceira cheia de arbustos, árvores, natureza, beleza como se fosse o paraíso, mas lá em baixo eu consegui vislumbrar a linha férrea por onde passava o comboio…

Levantei-me, estava calmo e tranquilo, vi uma amalgama de ferro retorcido, misturado com vidros partidos, névoa de fumo pairava no local. Não sei por quanto tempo fiquei a observar essa cena dantesca de corpos inertes dentro do veiculo que deitava fumo.

Ouvi a minha mãe a gritar o meu nome, apercebi-me que ainda estava dentro do carro no lugar do meio. Estavam todos em cima de mim, conseguia sentir a pressão do peso das bagagens e das pessoas.
Eu olhava para todo o lado, mas estava tudo enevoado como se estivesse coberto por uma cortina espessa e escura…Fui puxado e senti que sai por uma das janelas.
Sem conseguir ver nada, sentia-me ser puxado por várias mãos, pele que tocava com diferentes temperaturas e rugosidades…tinham feito um cordão humano para puxar os feridos.
Senti uma voz feminina que me perguntava o que sentia, só conseguia dizer que não via nada…entretanto comecei a sentir um sabor agridoce na boca, um sabor férreo de sangue….entrei em pânico, pensei que estava a explodir por dentro, com hemorragias internas.
Procurei um apoio com as mãos e senti a chapa irregular do que me pareceu um carro dos bombeiros e, desatei aos murros ao carro.
Ouvi gritar e agarrarem-me a dizer que estava a entrar em estado de choque…fui atirado para dentro de uma ambulância, juntamente com os outros familiares, menos o meu pai. Perguntava onde estava o meu pai, toda a gente a tentar me acalmar, mas ninguém me dizia nada…e eu a gritar “onde está o meu pai !!!”. O desespero foi tomando parte do meu ser, deixei de ouvir, de ver, de sentir…tinha os sentidos trocados. Via com as mãos, ouvia com os olhos, sentia com os ouvidos…
Então na mistura dos gritos das sirenes, comecei a ouvir os gemidos e choro do resto dos familiares…não sentia dores. Fui tocando um a um para os sentir vivos e, para me sentir vivo.

Chegamos ao hospital, agarraram em mim e tiraram-me de dentro da ambulância. Ouvi, esperançoso, outra voz feminina que me auxiliou, dizer “o seu pai está na outra ambulância” e levou-me até ele. Senti, finalmente, o calor das mãos do meu pai e a sua voz, calma, que me perguntou “está tudo bem?”, agora está…

...o dia em que quase morri (continuação)...


…no hospital, depois de vários exames, comecei a recuperar a visão lentamente. Depois de nuvens de luz, comecei a ver vultos e posteriormente a conseguir distinguir os rostos das pessoas.
Deram-me alta assim como as duas priminhas mais pequenas, que não sofreram nada, ao contrário da mãe delas que ficou com um fractura exposta.
O meu pai, fiquei a saber mais tarde, tinha partido vértebras na coluna cervical, mas por sorte não afectaram a medula, a minha mãe partiu o externo e 8 costelas, ficaram os três adultos internados.
Eu tinha na altura por volta dos 19 anos, era o único maior de idade com duas crianças e os pais no hospital.
Fomos transferidos para outro hospital, num centro urbano maior e supostamente com melhores condições. Chegamos ao hospital em Coimbra, entretanto entramos em contacto com familiares e o pai das meninas que apareceu mais tarde.
Sem possibilidade de fazer nada, com os meus pais e prima no hospital, fomos para o centro da cidade e alugamos quartos no hotel.

Tomei um banho quente antes de me deitar, refiz os acontecimentos do dia na minha mente, enquanto a agua corria quente sobre a minha cabeça e corpo, envolvendo os meus sentimentos e as lágrimas que corriam do meu rosto.

Tinha sido um dia demasiado longo, mas a noite iria revelar acontecimentos ainda mais emocionantes.

Acordei, banhado por uma luz que emanava de todo o quarto, “já é dia” disse para mim.
Olhei para me situar, do lado esquerdo um candeeiro distribuía uma luz ténue mas forte ao mesmo tempo sem se tornar insuportável, como quando acordamos e levamos com luz forte e a nossa visão leva tempo a acostumar.
Ainda do lado esquerdo, encontrava-se a porta de saída do quarto, de onde saía uma luz imensa pelas frestas da mesma. “Quem é que acedeu esta luz toda”, lembro-me de ter dito isto, meio incomodado por já estar acordado.
Do lado direito ficava situada uma janela que dava para a rua, cuja a persiana estava corrida, mas mesmo assim davam para passar pelos buracos da persiana mais luz intensa, que eu imaginei ser do Sol.
Tinha o quarto banhado de luz por todo o lado, mas não fiz questão de me levantar ou mexer, deixando-me ficar a preguiçar por momentos no calor letárgico da cama.
Nesse entretanto, pressenti uma maior intensidade de luz vinda da porta do lado de fora do quarto.
Pensei, “alguém está a tentar abrir a porta do quarto para entrar ou para me vir acordar”.
Virei-me para o lado esquerdo e comecei a tentar que o meu cérebro digerisse o que estava acontecer.

Ao principio pensei que estivesse a ficar ofuscado pela luz que emanava da porta que tinha sido aberta, mas na realidade o que eu via era um vulto que estava iluminado por luz, cujo o rosto eu não conseguia distinguir. Começou lentamente a dirigir-se para mim.
Eu forçava a visão para conseguir distinguir o rosto do que se estava a aproximar.
Tentei falar para perguntar quem era, o que estava a fazer ali, mas só ouvi o som vazio da minha voz. Comecei a entrar em pânico, o meu pensamento fervilhava de emoções misto de medo e perplexidade, “ainda não recuperei de um acidente e já me vai acontecer mais uma” disse para mim.

Foi quando me tentei mexer, talvez saltar da cama e fugir pela porta, talvez atacar ou defender-me antecipando o que iria acontecer.
Do pânico surgiu um terror que se começou apoderar de mim, nenhum dos meus membros reagia ao comando da minha mente, estava paralisado foi a única sensação que tive naquele momento.
Pior do que não ver, nesse dia, era o que eu via nesse momento.
Sem poder mexer, falar ou gritar só podia assistir incrédulo aos acontecimentos presentes.
A forma fantasmagórica continuava a aproximar-se de mim lentamente, da direcção da porta até ao meu lado esquerdo, depois começou a contornar a cama, sem nada dizer, passou pelos pés da cama e foi para o lado direito da cama, sempre a olhar para mim, os seus olhos fitando os meus, o seu rosto parecia não ter forma ou ser formado de uma matéria mutável de aspecto que era impossível de distinguir.
Aproximava-se lentamente do lado direito depois de ter contornado toda a cama, até chegar perto da minha cabeceira.
Tentei fechar os olhos, mas não consegui. Tentei observar melhor aquela pessoa, adivinhar o que iria fazer ou o que fazia ali e o porquê de tudo aquilo.
Olhei o corpo dele, parecia vestir algo de branco e luminoso, de ladrão que pensava que ia me roubar, passou para santo ou anjo que me ia levar dali, que eu tivesse morrido devido aos ferimentos que não foram bem observados no hospital e eu estava morto.
Mas eu conseguia ver tudo ao meu redor, o pormenor do papel de parede e a sua textura, os cortinados abertos, eu deitado na cama, os lençóis e cobertor que me cobria, o tapete no chão a mesinha de cabeceira com o candeeiro por cima com a luz ligada, como podia sentir, ver, cheirar tudo isso e estar morto ao mesmo tempo??!!!...
Então a forma fantasmagórica começou a aproximar-se de mim, o seu rosto tranquilo, a sua boca num sorriso acolhedor, pareceu que iria me beijar, “um homem que eu não conheço de lado nenhum vai me beijar”, foi ai que o pânico se instalou totalmente….

Ouvi a sua voz pela primeira vez, não soube distinguir se eram os seus lábios que emitiam o som e os meus ouvidos que o captavam, ou se era a minha cabeça, ou a minha imaginação ou o que quer que fosse, mas ouvi perfeitamente ele dizer suavemente, tranquilizando-me “Olá, está tudo Bem!!!”…

O quarto ficou na maior penumbra, “onde estava a luz que ainda agora iluminava tudo??! Onde estava a pessoa que falou mesmo agora comigo???!! A janela que tinha luz a sair das persianas, a porta do quarto aberta??!!! O que aconteceu exactamente aqui???!!” a minha mente fervilhava de perguntas sem resposta.

Consegui levantar e ligar o candeeiro que supostamente estaria ligado.
Fiquei a observar todo o quarto para ter a certeza que tinha ou estava mesmo a ver aquele local e não teria imaginado ou sonhado tudo aquilo.
Mas estava lá tudo, o papel de parede texturado, o tapete no chão, os lençóis, cobertores a cama tudo no seu mais ínfimo pormenor…

Nunca contei nada disto a ninguém, com medo que fosse considerado louco, ou que a pancada na cabeça do acidente fosse mais grave do que eu pensei, mas isto aconteceu para mim de tal maneira real, que não tenho dúvidas nenhumas que é in’realidade…

terça-feira, 8 de novembro de 2011